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no dinheirovivo.pt de hoje, sobre exportações

6 comentários

Nos últimos tempos, quando se pretende dar boas notícias sobre a evolução da economia portuguesa, fala-se das exportações e do seu crescimento; como o INE publicou há dias informação referente ao primeiro trimestre, decidi ir dar uma olhada e ver se são mesmo boas notícias 🙂

Exportações, boas notícias?

14/05/2012 | 00:08 | Dinheiro Vivo

Há uma evidente necessidade de boas notícias sobre a economia portuguesa. Nos últimos tempos, essas boas notícias foram vistas no crescimento das exportações, que têm mantido um ritmo de crescimento acima das expectativas. Não são só têm crescido como se têm traduzido na conquista de novos mercados.

A boa notícia é obviamente a capacidade demonstrada de redirecionar esforços do mercado nacional para mercados internacionais, sobretudo fora da União Europeia.

Sendo esta uma evolução favorável, há que procurar saber como se pode garantir a sua sustentabilidade e que implicações tem para a economia portuguesa, sobretudo no curto prazo e emprego, por um lado, e para o potencial de crescimento a longo prazo.

Olhando para os diferentes elementos que motivaram o crescimento das exportações, salta à vista a importância dos combustíveis minerais, o que sucede quer no lado das exportações quer no lado das importações.

Mais interessante, no entanto, é o facto de a contribuição para a melhoria das contas externas, comparando Janeiro a Março de 2012 com o mesmo período de 2011, ter origem em diversos sectores (metais comuns, máquinas, aparelhos, veículos, etc…), de acordo com as Estatísticas do Comércio Internacional recentemente disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Estatística.

Não estar dependente de um único sector é fundamental para que este melhor desempenho exportador seja sustentado. A diversidade de sectores exportadores é também importante em termos de emprego.

Por exemplo, se toda a melhoria tivesse tido origem nas exportações da categoria de combustíveis minerais, sendo este um sector de actividade com pouca utilização de trabalhadores, a situação seria menos interessante do que a actual para objectivos de recuperação de emprego na economia nacional.

Abrangendo-se vários sectores no aumento das exportações, também a mobilidade intersectorial de trabalhadores necessita de ser menos pronunciada e terá menores custos do que se apenas houvesse um sector exportador em expansão.

Esta heterogeneidade nos sectores relevantes tem também uma vantagem importante, não clama por uma intervenção pública sectorial e sim por uma garantia geral de bom funcionamento da economia. A prazo, é ainda necessário saber até onde este crescimento das exportações pode ocorrer com base na capacidade instalada e quando será forçoso proceder a investimentos em mais capacidade produtiva, e se haverá as condições financeiras para que esse investimento ocorra. O apoio às exportações terá de passar por esse criar de condições genéricas mais do que por identificação de sectores preferenciais.

Claro que se terá de ir confirmando esta evolução e a diversidade de sectores na contribuição para as exportações, mas não deixam de ser boas notícias e não só pela taxa de crescimento das exportações ou evolução do saldo das contas externas.

e para justificar as afirmações acima, utilizei o seguinte quadro, baseado nas estatísticas do INE:

Nota: as últimas três colunas são cálculos apresentados adicionalmente; as restantes colunas são as constantes da publicação do INE
(disponível aqui)
Desconhecida's avatar

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

6 thoughts on “no dinheirovivo.pt de hoje, sobre exportações

  1. Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE's avatar

    Recebido via facebook:

    Qd o comportamento das exportações é bom as primeiras palavras só podem ser de aplauso. As segundas e as terceiras tb. Mas talvez as sets devam ser frieza e prudência. Cerca de 62% do ganho das exportações concentram-se nos combustíveis e mat.transporte. Mau, claro q não! mas na estrutura estes representavam pouco mais de 16%.
    Tb nas conclusões algumas notas. A dimensão dos desafios competitivos é transversal pelo q a resposta ou é transversal ou não é. Mas talvez valha a pena refletir q hoje a industria parece voltar a ter o valor como resposta para reconstruir o dinamismo competitivo mais global. E talvez seja interessante considerar o q seria dinamismo do setor florestal, só para dar um exemplo, se a ação publica nesta área fosse eficiente. Ou olhar sem preconceitos para as experiências de países emergentes, e em franco crescimento, no uso de políticas industriais competitivas.

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  2. Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE's avatar

    A potencial importância dos combustíveis foi, na verdade, o que me fez ir buscar estes valores. É verdade que os combustíveis são as exportações que mais sobem, mas também são as importações que mais sobem. Retirando os combustíveis, há ainda assim diversas áreas a crescer em termos exportadores. Isto quanto à dinâmica de exportações.

    Olhando para a capacidade de recuperar o desequilíbrio externo, como as importações diminuiram (excepto nos combustíveis) verificou-se um aumento das situações de saldo positivo em vários pontos, o que significa que o reequilibrio externo é alcançado por esforço diversificado.

    Estas duas observações são boas notícias, e mitigam a “nuvem de chuva” que poderia ser causada por excessiva dependência das exportações de combustíveis.

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    • Desconhecida's avatar

      O nosso problema continua o mesmo: as importações de combustíveis teimam em atirar a balança para baixo apesar de tanta proclamação na inovação da política energética.

      A diversificação das exportações parece ser o sinal mais promissor deste primeiro trimestre. Oxalá se mantenha e permita absorver tantos anos de infrutíferas tentativas e de tanto investimento para inverter o saldo dos combustíveis.

      JMR

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  3. arunce's avatar

    Esses mapas já me tiraram muitas noites.

    Além do que já foi dito neste artigo sobre a “pouca utilização de trabalhadores” na produção de combustíveis minerais, existe uma outra situação igualmente preocupante que ninguém quer abordar.

    As nossas refinarias produzem muito mais gasolina que gasóleo (6:1? 5:1?), e nos últimos anos o consumo da gasolina cai vertiginosamente a favor do gasóleo – daí ser necessário importar cada vez mais crude para satisfazer o mercado nacional em gasóleo.

    Sobre a gasolina que sobra, estaremos a vender a gasolina a preço de custo ou a perder? (faremos de conta que não se sabe das promoções a moçambique?)

    A Galp tem em curso a conversão das refinarias nacionais de forma a inverter esta situação – um investimento de €1,5 mil milhões que era suposto estar terminado em 2011.

    Como ficará a nossa balança depois disto? Haverá aqui alguma ilusão nos combustíveis minerais?

    Sobre a agricultura, tenho assistido a grandes movimentos estrangeiros muito perniciosos.
    Empresas que parecem investir em portugal, que sabem subsidiar-se junto do IFAP, que contratam parte de mão de obra subsidiada e outra parte em emigrantes (legais e/ou ilegais), que depois escoam o produto para fora, normalmente para o grupo investidor, com margens muito reduzidas de forma a pagarem poucos impostos.

    A parte que mais me assusta é: que muito dos outros valores sejam o último suspiro em esforço do governo anterior. Espero que não.

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  4. Jorge Bravo's avatar

    Meus caros Arunce e Pedro Pita Barros
    Na Muche
    Até que enfim que temos índices, parece que temos, que permitem questionar alguns sectores agrícolas e o sector dos combustíveis.
    Seria interessante verificar como anda o sector minero-extrativo e já agora como vamos de gás nos “ nossos mares”.
    Será que vamos fazer saldos? E dar subsidios à tripa forra como já aconteceu na indrustia, para deslocalizar logo empresas ( antes dizia-se fechar), no fim fo prazo minimo de uso de subsidios termine?

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  5. Jorge Bravo's avatar

    Já agora porque raio de razão é que se continua a exportar (ainda) maéria prima em bruto sem ser ao menos semi transformada?

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