As transformações na forma de exercer medicina, e na própria relação entre médicos e doentes decorre do crescente número de mulheres na profissão: segundo JLA, “feminização da profissão médica, que tem consequências na escolha das especialidades, pois a conciliação da vida profissional e a vida familiar, incluindo um projecto de maternidade, obriga a preferir especialidades (…) que permitem um estilo de vida mais controlável”
Voltamos aqui implicitamente aos aspectos da relação médico doente, na medida em que a “feminização” pode ditar uma menor disponibilidade individual para o exercício da medicina 24 h por dia x 7 dias da semana – mas não significa menor acesso, ou menor qualidade, nos cuidados de saúde prestados. Obriga a que a organização da assistência na doença tenha que possuir outras características diferentes das do passado. Mas também há outros factores importantes que fazem mudar as relações mais relevantes no campo da medicina. Não parece que este seja um desafio tremendo para além da maior planificação dentro das organizações que se torna necessária por haver outras utilizações concorrentes do tempo do médico / da médica.
17 \17\+00:00 Abril \17\+00:00 2012 às 12:07
quando os médicos era quase todos homens ninguém se preocupava com o impacto que isso tinha na escolha das especialidades. não percebo porque é isto mencionado quando aumenta o número de mulheres a exercerem medicina…
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17 \17\+00:00 Abril \17\+00:00 2012 às 18:18
recebidos via facebook:
[1] ”na medida em que a “feminização” pode ditar uma menor disponibilidade individual” – não será assim tão linear, então e a partilha das responsabilidades familiares?
Pedro Pita Barros Obrigado pelo comentário. Há dois aspectos diferentes. Um de longo prazo com a escolha das especialidades, que podera ser frequentemente feita mesmo antes de se saber o que será a vida familiar e que apoio existirá ou não. Um de curto prazo que é a disponibilidade em todo o momento para os doentes, mesmo com o apoio familiar é razoável admitir que seja menor do que sucedia com médicos sem qualquer preocupação com ajudar nas tarefas familiares. Não há aqui qualquer julgamento de valor, apenas uma descrição, resta saber se está a ser completa e precisa.
[1] a de curto prazo, não se partilha (ainda!) 😀
[2] SOU MÉDICO HÁ 38 ANOS. EU PENSO QUE A IGUALDADE ENTRE DIREITOS DOS DOIS GÉNEROS, É DAS MELHORES DE ENTRE AS PROFISSÕES. ISSO IMPORTA DIZER, NÃO CONTRARIO OUTROS ARGUMENTOS.
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17 \17\+00:00 Abril \17\+00:00 2012 às 21:20
A “feminização” da Medicina tem sobretudo impacto no acesso á faculdade. Aí é um viés tremendo. O meu curso 1977/1982 – 1º curso com numerus clausus da FML foi o 1º a ter igualdade de género. Nos últimos 30 anos foi sempre crescente o nº de mulheres admitidas em Medicina. Também são as mulheres quem tem melhor nota de acesso quando se avaliam os dados globais, o contingente feminino cresce e ocupa lugares e especialidades masculinas por mérito e por nota discutida em exames nacionais.
A disponibilidade do sacerdócio da Medicina é um chavão sem grande sentido. Aliás especialidades tradicionalmente femininas como a Pediatria ou a Anestesia implicam uma disponibilidade tremenda. Se há profissão onde a igualdade faz sentido é a profissão médica.
Essa feminização do acesso pode e deve ser discutida:
Nos anos 70 com o esforço de guerra e a necessidade de homens na frente de combate houve uma abertura para o ingresso de mulheres. A medicina como profissão de reconhecimento social e facilitadora de autonomia era um sonho fácil de vender a uma multidão de jovens da classe média que terminava o liceu.
Actualmente penso que a deficiente entrada de rapazes nas escolas médicas se deve a questões ligadas ao desenvolvimento pubertário e ao tipo de programas do secundario – generalistas e interligados, que não casam tão bem com a mente masculina mais associada ao protagonismo individual.
Este é um tema interessante de discutir.
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17 \17\+00:00 Abril \17\+00:00 2012 às 22:12
recebido via linkedin:
Caro Prof PPB, esta noção parece-me irrelevante. Ao contrário, a (enorme) transformação na forma e exercer medicina passa por, além dos doentes, termos um número crescente de utentes (aqueles que têm direitos constitucionais) e de clientes (os que têm “dinheiro”); estes últimos manifestam a sua parca educação e respeito por quem os atende…talvez por pagarem por uma consulta o que pagam por uns saltos no sapateiro. Por isso, hoje ´mais importante não confrontar os utentes/clientes e, se possível, fazer um pouco de Medicina. No meio disto são os DOENTES (que ainda os há e cada vez em pior estado) os parentes pobrs.
Aceite os meus melhores cumprmentos.
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17 \17\+00:00 Abril \17\+00:00 2012 às 22:22
Constato que a impressão geral de concordância com a posição de que a “feminização” da profissão médica não é um verdadeiro problema.
Mais interessante é a questão levantada pela Avelina Moniz sobre se essa feminização não estará a ser induzida ainda que involuntariamente pelas características do sistema de ensino e de acesso.
Saber se esse é um problema e se necessita de solução é o passo seguinte, quase como uma igualdade de género em termos de oportunidades, acomodando para o nível de desenvolvimento de cada género. Só que não é claro como essa preocupação, caso seja realmente uma preocupação, deve ser acomodada.
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