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Carnaval

3 comentários

(post gémeo com No Reino da Dinamarca)

A decisão de não dar tolerância de ponto no Carnaval, e a forma como foi anunciada não deixa de ser curiosa.

Num período de dificuldades evidentes, num período em que o desânimo se vai instalando, em que a emigração como solução começa a ser assumida pela negativa – por não haver futuro em Portugal – a não atribuição da tolerância de ponto surge como mais uma “punição”, e não como um esforço adicional.

A concessão da tolerância de ponto teria a vantagem de permitir uma certa descompressão, a manutenção de um ar de normalidade em tempos exigentes, a capacidade de deixar algum divertimento, ou de descanso.

Precisamente por se retirarem feriados, por se retirarem dias de férias, é que permitir uns dias de distracção, habituais, teria feito sentido.

A lógica subjacente às declarações do primeiro-ministro correspondem a uma lógica workaholic – não perder uma oportunidade de trabalhar um pouco mais para fazer Portugal sair da crise, e de mostrar esse compromisso nacional interna e externamente. Até se compreende. Mas no balanço, teria preferido ouvir dizer que esta ano há tolerância de ponto, que para o ano se veria consoante os resultados dos esforços desenvolvidos pelos Portugueses durante este ano, ou no limite que se fosse mesmo necessário no dia 17 de Novembro, Sábado, se trabalharia como se fosse dia de tolerância de ponto.

E só por curiosidade, e reflexo desta tradição de paragem no Carnaval, no site do Ministério da Educação, aqui, tem-se no calendário escolar uma interrupção entre 20 e 22 de Fevereiro.

Não está aqui em causa uma questão de “direitos adquiridos”, ou de tradição que não pode ser alterada; está em causa em conseguir manter ânimo para continuar o caminho difícil que nos espera, colectivamente. A mobilização da população vai assim aumentando de dificuldade, e por inteira responsabilidade das decisões do Governo e da forma como são comunicadas, em questões onde o respeito pela “sensibilidade social” seria certamente uma forma de ganhar as pessoas para o que é preciso fazer.

ps: não sou adepto do Carnaval, nem usualmente festejo.

Desconhecida's avatar

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

3 thoughts on “Carnaval

  1. Nuno Vaz da Silva's avatar

    Compreendo a argumentação embora não partilhe da mesma opinião. Parece-me que o aspecto mais negativo desta medida foi ter sido tardia, o que vai originar protestos e prejuizos que poderiam ter sido evitados. Em vez de ter sido anunciada à 20 dias da data, deveria ter sido há pelo menos 6 meses. Talvez tenha havido aqui uma falta de atenção às expectativas das pessoas e dos agentes económicos.
    Para além disso, têm faltado a este governo “quick-wins”. São essas pequenas vitórias que poderiam motivar as pessoas a contribuirem para a resolução de uma crise anunciada há pelo menos uma década!
    Um governo não deveria ter vários Ministros das Finanças, mesmo em clima de grande austeridade. Não sei se isso passaria por conceder a tolerância de ponto, mas concordo que algo tem de ser feito para fomentar a esperança dos contribuintes num futuro melhor…

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  2. Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE's avatar

    Nuno,
    identificas bem o elemento crucial – não é a 20 dias que se anuncia algo que vai contra a expectativa, inclusivamente da própria estrutura do Governo, via calendário escolar e outras situações similares.

    E dizer que por se retirarem 4 feriados estava sub-entendido que o Carnaval também deixaria de ter tolerância de ponto parece-me wishful thinking.

    A questão não é o dia de trabalho a mais ou a menos, é mesmo uma aparente (?) displicência que não pode existir numa relação de confiança com a população.

    Agora, estou certo que não dar tolerância de ponto não será um “quick win”, será mais o “dia de visita ao trabalho dos pais”.

    Mas virando para outro lado, está difícil encontrar quick wins que façam as pessoas ter vontade de “pedalar a bicicleta” para a frente.

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  3. fmcamota's avatar

    O Governo é socialmente insensível e tem demonstrado um total desinteresse pela gestão das expectativas da população. É excessivo a demonstrar este desinteresse. Esta atitude é ostensiva e produz uma reacção natural de adversidade.

    O tema do Carnaval (independentemente da justeza da tolerância) deverá inserir-se ainda na discussão do contributo do tempo de trabalho para o aumento da competitividade! O autismo governamental manifesta-se uma vez mais e, à sombra da troika, vai impondo medidas cuja eficácia falta demonstrar e explicar.

    Não existe qualquer evidência de se pretender “aliviar” a pressão ou dar alento às pessoas: lamentavelmente as mensagens são de ausência de solidariedade – a emigração como proposta de resolução dos problemas do País é inqualificável!

    Por isso não se vislumbra um futuro melhor e o principal agente da mudança – o Governo, está ele próprio interessado em não criar esperança!

    Se vai ou não resolver problemas… o futuro dirá!

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