Surgiram recentemente alertas de que haverá farmácias com sérias dificuldades financeiras e em risco de encerramento. Por outro lado, já este ano foi publicado um relatório pelo Tribunal de Contas segundo o qual haveria ainda espaço para redução de preços nas farmácias (utilizando para análise de equilíbrio um modelo apresentado no anexo 8 do relatório do consultor).
O Memorando de Entendimento, por seu lado, preconiza uma alteração na forma de remuneração das farmácias, e uma poupança na actividade de distribuição e dispensa de medicamentos de pelo menos 50 milhões de euros. Essa poupança é para ser obtida, preferencialmente, por uma alteração da estrutura de margens que ficam para a distribuição, ou caso seja necessário por uma contribuição que pode ir até à diminuição de 3 pontos percentuais na margem.
Olhando para a forma actual de cálculo das margens das farmácias é de esperar que a actual redução de despesa com medicamentos se traduza automaticamente em menor margem em valor absolutos. Uma aproximação razoável num contexto de baixa sensibilidade da procura de medicamentos face ao seu preço é pensar que uma redução percentual do preço tem um impacto próximo de uma redução percentual da margem de distribuição. Por exemplo, uma redução de 10% das vendas tem um impacto similar, aproximadamente, a uma redução de 10% da margem. Estando a margem em 20% do PVP, essa redução são 2 pontos percentuais. Ou seja, ter uma redução dos preços dos medicamentos em 10% é similar a ter uma passagem da margem de distribuição de 20% para 18%.
De acordo com os valores de evolução agregada, há assim um impacto da evolução recente de decréscimo das vendas de medicamentos na rentabilidade das farmácias. De Janeiro a Setembro de 2011 as vendas totais em PVP desceram cerca de 8% face a Janeiro – Setembro de 2010. Admitindo que os custos de funcionamento das farmácias não são muito diferentes, este efeito preço será aproximadamente equivalente a uma redução de margem de 20% para 18,4% aplicado ao anterior volume de vendas. Sendo importante, não parece ser justificativo de uma falência generalizada das farmácias portuguesas, embora aconselhe algum cuidado com a redefinição das margens que venha a ser feita. Este valor médio também nada nos diz sobre a distribuição dos impactos, e que poderão ser mais significativos nalgumas farmácias face a outras.
A preocupação com os efeitos da saída de farmácias do mercado encontra-se presente no Memorando de Entendimento quando se refere que o mecanismo excepcional de obtenção de poupanças na distribuição via redução de 3% nas margens, se for necessário, não deverá esquecer de salvaguardar a rentabilidade mínima das pequenas farmácias de localização mais remota.
Ora, neste avaliar da situação não se poderá também deixar de olhar para o que possam ter sido decisões de investimento erradas por parte das farmácias. De acordo com uma notícia recente, uma farmácia teria tido como valor de trespasse 4 vezes o seu volume de vendas anual, sendo que se a farmácia fica com 20% desse volume de vendas, mais coisa menos coisa, então levaria 20 anos a que actividade normal pagasse o trespasse (ou que houvesse a expectativa de poder vender mais tarde por valor não muito diferente, em termos reais). Os encargos financeiros deste tipo de aquisição, num contexto de subida de juros em geral, e de redução do volume de vendas, em média, leva naturalmente a dificuldades nessa farmácia, mas não se deverá imputar a responsabilidade dessa dificuldade ao ajustamento da despesa com medicamentos.
Ressalvando esses casos, convirá ter em atenção para o futuro que a redução da despesa pública em medicamentos se continuar a ser sobretudo feita pelo lado da despesa em ambulatório, levará ainda a menores margens, em euros, para as farmácias, dado que ainda não se está sequer perto do objectivo de 1,25% do PIB (que só será verificado em 2012, aliás).




