Saiu hoje na imprensa uma notícia sobre a abertura de vagas para internos no interior do país, passando a beneficiar também de uma bolsa de 750 euros mensais adicional desde que assumam o compromisso de se fixarem nessas regiões durante tantos anos quantos os que tiveram de formação (os detalhes são os lidos na comunicação social, não tive acesso ao documento / plano original).
A fixação de médicos no interior do país, sendo uma preocupação, está assim a ter um princípio de solução, e adequado. Se há maior escassez de médicos numa região, uma das formas de os atrair é naturalmente pagando um salário superior. Está assim dado o primeiro passo. Mas se é primeiro passo, significa que outros têm que ser dados.
Tendo estado há cerca de mês e meio numa conferência na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, um dos temas que esteve em discussão foi precisamente o de atracção de médicos para o interior. E ficou claro que se o salário é uma parte importante, e sobretudo é o ponto de partida, de uma estratégia de fixação de médicos, a prazo não é tudo.
Significa que há um papel importante das instituições de saúde do interior. Esse papel é de oferecerem a esses médicos, que numa primeira fase podem ser atraídos sobretudo pelo incentivo salarial, um plano de vida atraente, com um projecto profissional que faça sentido para eles. Sem esse projecto profissional dificilmente o aspecto monetário será suficiente (a menos que seja muito generoso e permanente). A construção desse projecto, para que seja parte integrante do plano de vida dos médicos, tem que partir das instituições e não do Ministério da Saúde enquanto estrutura central. Cabe aos profissionais das instituições do interior construir e desenvolver esses projectos, para eles e para os que novos profissionais que aí se fixem. E escrevo profissionais porque de alguma forma todos as profissões que participam em instituições de prestação de cuidados de saúde têm de estar envolvidos.
Naturalmente que estes projectos profissionais não conseguirão reter todos os profissionais, mas em contrapartida até poderão vir a atrair outros mais tarde.
Esperemos que depois do primeiro passo as instituições de saúde do interior e as pessoas que os dirigem tenham a capacidade de dar os passos seguintes e construir os projectos profissionais que façam valer a pena ter planos de vida nessas regiões. Do que recordo da discussão na Universidade da Beira Interior, há a consciência dessa necessidade de médicos, há a consciência de que algo tem de ser feito e pelas instituições de saúde da região. É um começo. Resta agora fazerem o resto do percurso, pensando a longo prazo.
(post gémeo com o blog estado vigil)
15 \15\+00:00 Novembro \15\+00:00 2011 às 09:19
Finalmente algo de novo ainda que de simples bom senso.As crises teem destas coisas:))
O exemplo da Covilhã poderia deveria servir para dinamizar o muito que há a fazer com simplicidade neste Pais, incluindo a ligação entre a universidade e as estruturas distritais de saude no interior ( neste caso estou a pensar em 3 cidades: Guarda,Covilhã e C Branco).
Abraço
Fvroxo
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15 \15\+00:00 Novembro \15\+00:00 2011 às 09:32
Francisco,
Era precisamente essa ligação entre a universidade e as estruturas de saúde dessas três cidades que esteve em discussão, sendo que todas elas têm características específicas – unidade local de saúde num caso, centro universitário noutro e centro hospitalar no terceiro. Acabam por ter visões e culturas diferentes, importa agora que usem essa diversidade para criar um conjunto de projectos profissionais interessante. E deverá ser mais fácil criá-lo num contexto de diversidade, desde que partilhem um propósito comum. Está agora mais nas mãos deles do que antes desta medida (caso se venha a confirmar, claro).
Abraço
Pedro
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15 \15\+00:00 Novembro \15\+00:00 2011 às 11:05
E que tal aumentar a oferta de médicos?
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15 \15\+00:00 Novembro \15\+00:00 2011 às 19:54
Esta bolsa de formação mensal de 750 euros que acresce à remuneração do interno já não é novidade. Uma portaria de 2009 (http://www.destaquesdodia.com/wp-content/uploads/2011/11/IM-2009-A-Portaria-Bolsas-Internato.pdf) já tinha fixado o seu valor. A sua eficácia é, a meu ver, duvidosa. As vagas que conferem direito a essa bolsa acabariam eventualmente por ser igualmente preenchidas mesmo sem a referida bolsa. Este ano há 1403 vagas no internato médico para 1399 candidatos. É lógico que não será preciso incentivos para que as vagas sejam preenchidas. A estratégia que levará à fixação de médicos no interior é outra que já está a ser seguida (http://www.destaquesdodia.com/wp-content/gallery/diversos/vagas-medicina.jpg), a do aumento brutal das vagas em medicina com o consequente aumento do número de recém-especialistas a colocar onze a treze anos mais tarde, após a conclusão do curso e internato. Perante a falta de emprego no litoral acabarão por se deslocar para o interior onde ainda faltam (por agora) algumas especialidades. Depois desta fase a solução será o desemprego ou emigrar.
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15 \15\+00:00 Novembro \15\+00:00 2011 às 23:56
@peliteiro: Aumentar a oferta de médicos até que haja desemprego médico que force a ida para o interior do país não só demora tempo como tem os custos de primeiro “inundar” as zonas urbanas. Pode criar problemas de ineficiência se houver capacidade de “criar procura” para justificar mais médicos nas zonas urbanas.
@hugo: mesmo não sendo novidade a bolsa, se for usada como primeiro instrumento, para depois ser complementada com outras acções das instituições de saúde do interior, parece-me saudável. Quanto ao aumento do número de médicos, temos também que atentar aos fluxos de saída (reformas e médicos que deixam de exercer). Procurarei encontrar essa informação para olharmos para os fluxos líquidos. O parágrafo acima já expressa a minha dúvida sobre os custos associados com usar o desemprego médico como único instrumento para distribuição de médicos pelo país.
Daqui retiro que vale a pena tentar avaliar o papel de cada instrumento na atracção de médicos para posições no interior do país.
Obrigado pelas vossa contribuições.
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