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Capítulo extenso, com pouco foco e que mesmo para o leitor gera alguma dificuldade em percecionar o que realmente é fundamental que esteja minuciosamente descrito como aconteceu com todos os dados apresentados neste capítulo. Nas 85 páginas do capítulo, “salientou-se”, “destacou-se” ou “referiu-se” um qualquer dado 65 vezes. O ser um capítulo demasiado extenso, sem transição/divisão entre tópicos, pouco sistematizado torna difícil a sua leitura. | 44 |
Sendo um documento que permanecerá por 10 anos, as imagens e gráficos que o acompanham deveriam ter sido elaborados de acordo com a formatação do documento e não parecer que foram retirados de diferentes documentos | |
A meio do documento surgem os ODS, evidenciando os objetivos, por vezes os definidos nos ODS, outras vezes os países com melhor desempenho e por vezes a média da UE. Por que razão isto acontece? Qual o racional para se escolherem estes valores e não outros? | |
Conflito constante entre os últimos dados/séries disponíveis/apresentados/ selecionados. Exemplo: Página 44, refere no texto os de 2021 da população em Portugal, mas informação apresentada na tabela é de 2019. | 44 |
O capítulo 3 tem três grandes problemas que ecoam por todo o documento:- A base de comparação para as diferentes variáveis analisadas é alterada com frequência, tornando a comparabilidade e interpretação dos dados bastante difícil (existem linhas de corte tanto para valores iniciais como finais de anos muito variáveis, terminando algumas séries em 2017 e outras em 2021, a título de exemplo). É importante harmonizar as linhas de corte para início e fim de séries temporais ou, pelo menos, listar os pressupostos/razões pelas quais se analisou aquele período em específico e não o mesmo que o anteriormente utilizado para outras variáveis. – O facto de se fazer alusão à pandemia COVID-19 e seu impacto na exacerbação das necessidades em saúde destoa fortemente com o remanescente do documento, uma vez que poucos dados são analisados de forma a providenciar uma perspetiva mais completa da pandemia. Ademais, e considerando o exposto na parte introdutória do capítulo 4, quando se considera o horizonte temporal do PNS, é essencial afirmar as opções de política que presidiram ao facto de não se terem ainda dados concretos. É por insuficiência dos sistemas de informação e não se ter informação curada disponível? O que sucedeu à informação contida nos boletins diários da DGS, e como se incorporaram as discrepâncias detetadas em vários estudos académicos no processo de roll-over desta informação? Por que razão não se conseguiu agregar a mesma de modo útil a informar este PNS e melhor permitir, por exemplo, mapear os grupos etários (ou outra variável de interesse) que têm maior probabilidade de sofrer de algumas das necessidades de saúde exacerbadas, e consequentemente melhor abordar a carga de doença (burden of disease) e os DALY daí decorrentes? Todas estas questões, para além do óbvio impacto demográfico, económico, de acesso a cuidados de saúde (entre outros) da pandemia, assumem uma relevância tal que a sua omissão ou parco tratamento no âmbito deste documento perturba o leitor. Seria importante haver uma opção clara relativamente à pandemia COVID-19 – abordar ou não neste documento – e explicar o seu racional. De novo, seria completamente lícito que se fizesse esta análise em momento posterior e se deslocasse toda a discussão sobre o seu impacto para o documento aí produzido, tanto quanto não fosse como adenda ao PNS 2021-2030 aventada, por exemplo, em momento de avaliação intercalar já definido; o que não é justificável é apenas fazer reparos episódicos sem abordar uma tão óbvia e séria questão de saúde pública. – A qualidade dos dados utilizados só é referida episodicamente no capítulo 6, e não existe uma análise sumária (nem que seja como anexo) que permita aferir da mesma. Ora, considerando que por várias vezes é assinalada a parca quantidade de dados disponíveis ou a sua completude, é essencial mapear a que se deve este fenómeno – deve-se a dados omissos? A sistemas de informação que não comunicam? Existe uma grande variabilidade de dados disponíveis para as diferentes variáveis consoante a fonte de dados? Sem a existência deste anexo técnico ou de uma síntese das diversas variáveis analisadas e respetiva qualidade dos dados, avaliada de acordo com uma metodologia sólida e cientificamente validada, os exercícios estatísticos produzidos têm uma utilidade muito limitada. Afinal de contas, todos os artigos científicos começam, na componente de métodos, pela produção de estatísticas descritivas que caraterizam a fonte dos dados. Este elemento é substanciado, a título de exemplo, no capítulo 4, pelas projeções produzidas e elevadíssima incerteza subjacente, que se reflete bem na grande amplitude dos valores estimados. | 44 |
No plano é percetível a limitação existente relativa à coleta de dados em Portugal.Vale a pena realçar os seguintes aspetos:- Inexistente ou incompleta base de comparação entre variáveis, sendo esta alterada em diversos momentos. Isto impede/prejudica a análise precisa dos diversos indicadores;- Falta de posicionamento de projeção dos diversos indicadores de interesse discriminados no documento, tanto para o contexto português como de acordo com a envolvente europeia. | 44 |
O PNS adota aqui uma classificação de grupos etários clássica (0-14, 15-64, 65+ anos). Esta divisão teve, na sua génese, as considerações referentes a vida ativa da população. Sugere-se que seria mais interessante ter um critério de classificação por grupos etários com significado em termos de problemas de saúde ou intervenções do sistema de saúde em termos de prevenção e promoção da saúde (no que resultaria provavelmente um grupo etário inicial menos amplo – correspondendo aos primeiros anos de vida, e depois nas idades mais avançadas, um grupo etário onde se começassem a ter maiores sinais de carga de doença crónica, e um grupo etário final onde essa carga é muito maior). O PNS será um veículo adequado para propor e adotar classificações de grupos etários que tenham significado em termos das intervenções de saúde que se pretende considerar. | 44 |
Com o aumento da idade legal de reforma (https://dre.pt/dre/detalhe/portaria/307-2021-176075693) para 66 anos e 4 meses em 2023, bem como escolaridade obrigatória até ao 12º ano, as referências a dependentes e população ativa com as balizas temporais clássicas é desadequada (https://dre.pt/dre/legislacao-consolidada/lei/2009-34513275 – Âmbito da escolaridade obrigatória – 1 – Para efeitos do previsto no n.º 1 do artigo anterior, consideram-se em idade escolar as crianças e jovens com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos). A própria definição de população ativa, tal como definido pelo INE (“População com idade mínima de 15 anos que, no período de referência, constituía a mão de obra disponível para a produção de bens e serviços que entram no circuito económico (população empregada e desempregada).”) coloca a questão de “disponível”: se não houver abandono escolar, a grande maioria dos jovens com 18 anos ou menos estará ainda a concluir a escolaridade obrigatória e como tal não “disponível” para o mercado de trabalho. A população ativa é definida como população que está empregue ou à procura de trabalho. População inativa inclui estudantes, reformados (mesmo que abaixo de 65 anos), pessoas com incapacidade, etc. Assim, as afirmações sobre população ativa não são totalmente exatas, e será preferível encontrar uma outra formulação para apresentação das ideias centrais, até porque mais do que um índice de dependência baseado na população ativa, interessa ter um índice de necessidades de saúde (cujas balizas temporais podem ser distintas, e provavelmente serão, das “importadas” de outros contextos, nomeadamente segurança social e emprego). | 48 |
“O índice sintético de fecundidade (ISF) cresceu (sendo de 1,42 em 2019)” em Portugal.Vs“Na UE as mulheres têm tido, em média, menos filhos, sendo que o ISF tem sido inferior a 2,1 crianças por mulher. Em 2013 e 2018, o ISF na UE foi de 1,55 e 1,56 crianças por mulher, respetivamente.”.Se o ISF é o número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil e se Portugal tem um ISF de 1,42, a média da EU de 1,55 não é menor. | 51 |
Não é possível percecionar as diferenças de forma tão expressiva no texto como nas tabelas, no que diz respeito à evolução dos óbitos e respetivas taxas de mortalidade infantil, neonatal, perinatal e fetal, podendo inclusivamente induzir em erro o leitor. As variações apresentadas ao longo dos anos são, salvo raras exceções, em volta de valores muito próximos entre si e a variação percentual daí resultante dificilmente será relevante do ponto de vista da Saúde Infantil. | 58 |
A evolução no Quadro 4 é mais determinada pelo número de gravidezes que têm lugar do que pelo funcionamento do sistema de saúde. As oscilações observadas no quadro 4 não têm depois correspondência no Quadro 5. Sugere-se que seja apenas apresentado o Quadro 5, ou que a ordem de apresentação dos Quadros seja a inversa da atual. | 58 |
Sobre o objetivo 3.2, as metas têm ambição embora realistas. Obrigam a que nos próximos 10 anos se faça melhor dos que nos 10 anos passados. Não se torna claro do PNS como se pretende alcançar essas metas (tanto mais que ganhos adicionais serão provavelmente mais difíceis de alcançar quanto melhor for a situação de partida). | 60 |
Sobre o objetivo 3.1, a definição de metas quantitativas muito precisas não é particularmente útil dado os baixos números envolvidos, em que pequenas variações absolutas levam a variações percentuais grandes – de acordo com o PNS, entre 2011 e 2016 houve 4 a 6 óbitos maternos por ano, e entre 2017 e 2019, este valor foi de cerca de 15 óbitos maternos. Estas variações poderão ser meramente fortuitas e não refletir a intervenção e o funcionamento do sistema de saúde, dados os baixos valores. Do mesmo modo, compreende-se a referência ao indicador de “proporção de nascimentos (nados-vivos) assistidos por pessoal de saúde qualificado”, mas tomar o absoluto 100% como objetivo ignora aleatoriedade que possa existir (seja por razões completamente fortuitas e alheias ao sistema de saúde, seja eventualmente por decisão própria da grávida). | 63 |
Sobre o objetivo 3.4, considera-se que será mais apropriado separar, para efeitos do PNS, a redução da mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, da promoção de saúde mental e bem-estar, separação que é aliás assumida nos indicadores sugeridos. Nos indicadores, deixa-se o desafio de encontrar um indicador que não seja o suicídio. | 67 |
Sobre o objetivo 3.6, deverá ser tornado claro que a capacidade de assegurar as reduções de taxa de mortalidade evitável por acidentes rodoviários não está no sistema de saúde. | 70 |
Considera-se que seria adequado estabelecer objetivos no PNS quanto aos tumores malignos, de preferência em linha com as iniciativas em curso a nível da União Europeia. Não há aparente motivo para serem ignorados objetivos relevantes, mesmo que não constem explicitamente dos ODS. | 70 |
Na nota de pé de página 15, afirma-se que a desigualdade entre sexos “poderá” explicar-se pela maior mortalidade. Considera-se que deverá haver um pouco mais confiança nas explicações, ou então colocar sobre a forma de conjetura, e remeter para ambiguidades que surjam na literatura científica. | 72 |
É afirmado que “os anos de vida saudável aos 65 anos têm sido mais elevados no sexo masculino”, embora aqui haja um provável elemento de seleção – a probabilidade de atingir 65 anos, com carga de doença que reduza os anos de vida saudáveis, é menor para o sexo masculino. Ou seja, ao melhorar-se a longevidade no sexo masculino é provável que este indicador piore, por esse maior longevidade ser eventualmente conseguida pela sobrevivência até depois dos 65 anos de pessoas com carga doença que limitam os “anos de vida saudável”? | 74 |
Sobre o objetivo de “anos de vida saudável à nascença por sexo”, a Figura 41 que lhe dá apoio de interpretação, apresenta dois anos (2012 e 2013) em que Portugal tem melhor indicador que a média da UE27. Estas oscilações, se não tiverem explicação cabal, deixam a questão de saber se a evolução que se venha a encontrar é decorrente de fatores fortuitos, de aspetos metodológicos ou de evolução real.(um pormenor técnico é se o ponto de referência não deveria excluir Portugal e ser UE27-Portugal, de forma a meta não envolve endogenamente os resultados portugueses – cada vez que nos aproximamos da média UE27 fazemos essa mesma média subir). | 74 |
Sobre o objetivo 3.3, questiona-se a razoabilidade do “zero absoluto” como meta. Em termos aspiracionais, compreende-se o objetivo de infeção zero. Em termos de indicadores, será improvável que seja exatamente zero casos, e corre-se o risco de tomar qualquer valor estritamente positivo como sendo não atingir o objetivo. Ter um valor menor ou igual a X de novos casos poderá ser um compromisso (atualmente, a meta tem X = 0). | 86 |
Sobre o objetivo 1.2, há que atender a que as linhas de pobreza frequentemente utilizadas são estabelecidas em termos relativos, pelo que quedas generalizadas no rendimento médio da população podem baixar a pobreza. Adicionalmente, tomar como indicador a “proporção (%) da população cujo rendimento equivalente se encontra abaixo da linha de pobreza nacional, por sexo e grupo etário” coloca a responsabilidade sobretudo noutras áreas de intervenção pública e não no campo da saúde em particular. Sugere-se que seja declinado este objetivo em termos de despesas de saúde catastróficas, que de forma simples são despesas de saúde feitas diretamente pela população que levam, ou reforçam, o agregado familiar para uma situação de pobreza. Uma referência útil é: “Catastrophic health spending in Europe: equity and policy implications of different calculation methods” (https://www.euro.who.int/en/health-topics/Health-systems/health-systems-financing/publications/2018/catastrophic-health-spending-in-europe-equity-and-policy-implications-of-different-calculation-methods-2018) | 93 |
Sobre a evolução das desigualdades de rendimento em Portugal e evolução do índice de Gini, sugere-se a consulta dos trabalhos de Carlos Farinha Rodrigues e colegas. | 95 |
Sobre o objetivo 2.1, não se compreende porque é apenas considerado um indicador associado à população adulta. | 99 |
Sobre objetivo 3.5, sobre o consumo de álcool, em alternativa à referência ser o valor médio de consumo, poderá ser mais interessante o conhecimento sobre consumo nos grupos mais consumidores. Um mesmo valor médio pode resultar de uma distribuição de consumos bastante diferente. O uso nocivo de álcool encontra-se associado a consumos extremos, que podem levar a um valor médio baixo se a maioria da população não consumir, e o consumo estiver concentrado num grupo específico. Compreende-se que outros indicadores que não o valor médio de consumos de litros de álcool puro per capita (pessoas com 15 ou mais anos) possam não estar facilmente disponíveis. Adicionalmente, o consumo médio não informa necessariamente sobre o abuso de outras substâncias. | 101 |
Sobre o objetivo 3.a, é proposto como indicador relacionado com consumo de tabaco a “proporção (%) de fumadores com 15 ou mais anos relativamente ao total da população com 15 ou mais anos”. Considera-se que este deveria ser complementado com um indicador definido de forma similar para a população entre 15 e 25 anos (ou outro intervalo de tempo, que foque na iniciação de consumo). Um objetivo de consumo zero absoluto é irrealista (mesmo considerando um longo prazo que ultrapasse o horizonte de 2030). | 101 |
Sobre o objetivo 7.1, a leitura do objetivo é, e bem, mais geral que o ODS. Deveria ser expressamente referido como deverá ser pensada a intervenção para melhoria deste indicador, dado que falar apenas em preços de energia é obviamente redutor, e a capacidade de definir e de executar intervenções relevantes neste campo extravasa a área da saúde. A mesma observação pode ser realizada a propósito dos objetivos 3.9, 6.1, 6.2 e 13.2 e respetivos indicadores. | 106, 107, 108 |
Numa tónica de sustentabilidade, tantas vezes mencionada ao longo do documento, que não pode ser dissociada dos desafios climáticos que enfrentamos, faltam indicações ou planos focados em assuntos tão simples quanto a gestão de resíduos dos cuidados de saúde que, pela sua natureza e quantidade necessidade de uma abordagem particular e sensível às suas necessidades. | 108 |
Esforços relativos à criação e suporte de estruturas de apoio a uma população crescentemente envelhecida e aos problemas de saúde mental (psicológica e psiquiátrica) | 109 |
Negligência do acolhimento a refugiados, populações migrantes e outras atualmente excluídas dos cuidados de saúde | 112 |
Pouco esclarecimento sobre como se tenciona obter a melhoria de acesso aos cuidados, faltando nomeadamente uma atenção especial a:- identificar quem está fora do circuito de cuidados de saúde e quantificação- levantamento dos principais fontes de iniquidade e fatores de risco para agravamento desta- linhas gerais sobre como fomentar melhoria no acesso (e continuidade do seguimento) | 112 |
Sobre o objetivo 3.c, o foco exclusivo na intensidade de médicos por 1000 habitantes para acompanhar o acesso a cuidados de saúde não acomoda a possibilidade de diferentes modalidades de acesso, nem a evolução dos sistemas de saúde. Em particular, uma mesma intensidade de médicos poderá ter maior ou menor capacidade de garantir que as necessidades em saúde são satisfeitas, dependendo do desempenho geral do sistema de saúde e do conjunto global de soluções do sistema de saúde para responder às necessidades da população. Indicadores com base em tempos de espera (em diferentes pontos do percurso do doente) e com base em necessidades não satisfeitas darão uma visão mais próxima da realidade de acesso a cuidados de saúde. Sugere-se a utilização de indicadores mais próximos do que se encontra discutido no documento “Benchmarking access to healthcare in the EU” (https://ec.europa.eu/health/system/files/2019-11/opinion_benchmarking_healthcareaccess_en_0.pdf) | 112 |
Para cada indicador definido, deverá ser indicada forma de recolha, elemento de intervenção antecipado e área responsável por essa intervenção (colocada sobre forma de tabela num anexo). | |