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metas de vacinação COVID-19 e começo de novo escolar (1 ano depois)

Esta semana tem dois marcos – primeiro, inicia-se um novo período escolar, depois das férias de Verão. Aos poucos, nas próximas semanas, os diferentes níveis de ensino irão retomar as suas atividades. Segundo, têm pelo menos uma dose de vacina contra a COVID-19 perto de 8,5 milhões de residentes em Portugal (atendendo ao anúncio de que no final do dia de hoje mais de 85% da população terá sido vacinada com pelo menos uma dose).

Nota-se também uma vontade de regresso a uma certa normalidade, e até certo ponto há alguma “anestesia” quanto à evolução da pandemia – refletindo cansaço de todos, mas também a sensação de que havendo uma vacina a situação estará mais controlada.

Ainda assim, e porque o final do verão do ano passado foi também o inicio de uma segunda vaga da pandemia que teve o seu pico em novembro, descendo e estabilizando antes de se ter entrada na terceira vaga (a pior de todas), decidi fazer uma comparação direta dos números habituais de seguimento da pandemia entre os dias de hoje e de há exactamente um ano.

Primeiro, número de novos casos – sabemos que está acima, mas quanto mais acima e com que dinâmica surge na figura seguinte.

(nota: valores de média móvel de 7 dias de novos casos diários; calculados com base nos dados publicados pela DGS)

As duas grandes diferenças de 2021 para 2020 são claras – os valores diários de novos casos são bastante mais elevados, embora apresentem agora uma tendência de decréscimo, quando em 2020 se iniciava a “subida” para a segunda vaga. A esta situação de global de 2021 tem ocorrido uma reação de “sim, há mais casos, mas são menos graves, e conduzem a menor pressão sobre o sistema de saúde.”

Olhando para essas duas reações, tomando o número de óbitos (também em média móvel de 7 dias), a mortalidade, em valor absoluto, está a ser mais elevada do que no ano passado (adiante, veremos o que se passa com mortalidade em termos relativos). Ou seja, a situação é pior do que há um ano, tendo subido desde início de julho até meados de agosto. De momento, tem-se uma tendência de descida suave.

(nota: média móvel de 7 dias, calculada com base nos dados da DGS)

A outra parte dos “casos menos graves” está ligada aos internamentos, às situações de COVID-19 que levam à hospitalização, ilustradas na figura seguinte. Aqui, uma vez mais a diferença entre 2021 e 2020 não mostra que haja melhor situação do que há um ano em termos absolutos. É visível que no final de agosto de 2020 os internamentos começavam a subir, e agora têm uma tendência de estabilidade ou descida desde final de julho. Pode ser que o inicio do Outono seja menos problemático do que no ano passado, creio que todos o esperamos, mas ainda não é certo que assim, mesmo havendo a vacinação em massa da população.

(nota: média móvel de 7 dias, calculada com base nos dados da DGS)

Tomando em termos relativos alguns destes números, olhando para casos de óbito versus novos casos (com um intervalo de 17 dias, valor mediano apontado por alguns estudos para o tempo entre apresentação de sintomas e morte por COVID-19), observamos que em 2021 este rácio é bastante mais favorável do que em 2020. Creio que será desta diferença, presumivelmente atribuível ao papel da vacinação, e num quadro de menores restrições de mobilidade e atividade. Mas ainda assim, não se está numa situação em que a probabilidade de óbito tenda para valores totalmente residuais.

(nota: média móvel de 7 dias, calculada com base nos dados da DGS)

Sobre o contexto de menores restrições, o índice de Oxford (que faz uma compilação das várias medidas adoptadas pelos países) mostra que atualmente temos em Portugal menos restrições do que no ano passado por esta altura.

O que retirar destes valores? sobretudo a importância de encarar seriamente o período de Outono/Inverno que se aproxima, e o retomar das atividades letivas de forma geral. A maior mobilidade que se vai verificar nesta altura irá muito provavelmente fazer subir um pouco mais o número de novos casos, e com eles o número de internamentos e o número de óbitos, mesmo com uma percentagem muito elevada da população com vacinação completa (como se espera que seja a situação daqui a 15 dias quando as pessoas com primeira dose agora receberem a segunda dose). Significa também que a prudência relativamente à população mais susceptível de ser afetada pela COVID-19 será importante.

O contexto internacional, o que se passa com os outros países, também não dá grande orientação. No Reino Unido, a redução das medidas de limitação não criaram uma explosão de casos, mas não se observa uma melhoria da situação. Em Israel, o país que mais cedo atingiu grandes níveis de vacinação, a situação também não é, neste momento, muito diferente da portuguesa (ver os gráficos abaixo).

A atual situação (de algum equilíbrio) é frágil, pelo que os próximos tempos, para não haver recuos futuros, terão de evitar excessos de confiança, individuais, coletivos e nas decisões públicas.