O recente relatório da OCDE merece, tal como o do FMI, uma discussão cuidada. Desde logo, porque é de facto distinto e apresenta outras possibilidades. Embora as grandes linhas sejam na mesma direcção (consolidação das contas públicas), as opções para o fazer e sobretudo as opções de transformação estrutural apresentam algumas diferenças, que importa conhecer.
A introdução tem em si mesma algumas questões para discussão. O primeiro ponto importante é estabelecer como antes da adesão ao euro o início dos problemas de longo prazo da economia portuguesa. Em particular, um dos aspectos apontados foi um direccionamento excessivo para a procura interna. Ora, é preciso ser claro porque é esse direccionamento um problema, é necessário explicar quais as consequências. Essencialmente focar apenas na procura interna levou a uma menor capacidade de estar nos mercados internacionais, o que dada a pequena dimensão do mercado português faz com que queiramos importar mas não tenhamos muito para exportar, além de não ter pressão para uma melhoria contínua. Se a isto somarmos que os sectores para onde a procura interna se virou são sectores com pouco crescimento da produtividade pela sua natureza, será pouco surpreendente que os problemas de produtividade da economia se tivessem acumulado.
Logo de seguida, a OCDE reconhece o progresso durante o período de ajustamento em curso, realçando a resposta que tem sido dada a várias das recomendações que a própria OCDE fez para as economias desenvolvidas em relatórios recentes. A lógica do bom aluno está aqui reconhecida, não em relação ao programa de ajustamento, no qual a OCDE não tem participação, e sim em relação à visão geral de recomendações de política económica.
Claro que sobre os objectivos de crescimento com coesão social e promoção de crescimento equitativo não haverá discordância, já sobre os instrumentos adequados e desejáveis para alcançar esses objectivos existem opiniões diferentes.
Em próximos posts, iremos analisando o conteúdo do relatório, à luz deste objectivo.
20 \20\+00:00 Maio \20\+00:00 2013 às 15:52
Talvez falte dizer que as grandes quantidades de dinheiro que foram entrando em Portugal ajudaram muito a que a distorção procura interna vs exportações acontecesse.
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