(post gémeo com o blog No reino da Dinamarca)
O tema de Sérgio Godinho serve bem aos sentimentos dos dias de hoje, numa realidade diferente é certo, mas onde a componente emocional face à crise económica é clara, e se transfere para a avaliação da actuação política.
Na actuação política, os “pequenos nadas” são substituídos pela necessidade (ou será exigência o melhor termo?) mediática dos “grandes anúncios”. Em cada declaração de um ministro, ou do primeiro-ministro, espera-se ou a solução de todos os problemas ou a origem de todos os males. Em cada afirmação proferida pela oposição procura-se a irresponsabilidade ou a alternativa inequívoca. Raramente se procede a uma discussão dos argumentos, a sua validação conceptual e / ou com base em evidência.
Ao optar por um Governo mais pequeno do que vinha sendo hábito em Portugal, o primeiro-ministro expõe, potencialmente, a maior pressão mediática cada um dos ministros. Potencialmente, porque a atenção centra-se na verdade sobre três, quatro ou cinco ministros, sendo que os restantes passam quase despercebidos na sua actuação (o que não é necessariamente negativo, dando a esses tempo para pensar antes de agir).
O grande desafio dos próximos anos é, como tem sido amplamente referido, a coesão nacional. E dado o contexto actual, a contribuição da classe política tem que passar por uma participação baseada mais nos argumentos e não unicamente nas emoções.
Aos poucos, vamos assistindo à escolha desse opção, embora com riscos. O exemplo do tema da emigração nas palavras do primeiro-ministro mostra como falar de um tema difícil pode ser levado para o campo emocional. Mas do lado da oposição, em geral, o discurso do Partido Socialista tem oscilado entre o puro apelo emocional (o caso da tremura das pernas dos banqueiros alemães) e a procura de um registo sério de discussão (por exemplo, as declarações recentes de Carlos Zorrinho sobre o apoio aos objectivos do Memorando de Entendimento).
A confiança nos membros da classe política como líderes do país para ultrapassar a crise económica será feita por uma sucessão de “pequenos nadas”, roubando a expressão, que conduzam a resultados e não pelos grandes anúncios que se esgotam nas televisões, ou no papel em que se escrevem.
A vida é feita de pequenos nadas:
Segunda-feira
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira
vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar