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Programa do Governo para a saúde – Objectivos estratégicos

10 comentários

Dentro dos objectivos estratégicos enumerados, figura o reforço do exercício da liberdade de escolha. Este é um ponto também ele propenso a confusões e más ideias.

Primeiro aspecto fundamental – desde cedo que se reconheceu que em cuidados de saúde, o doente não tem o conhecimento técnico para tomar todas as decisões, e delega num outro agente, o médico, esse tipo de decisões.

Ora, este aspecto limita desde logo o exercício da liberdade de escolha. Se a quisermos ter, é forçoso que seja conhecida muito mais informação sobre a qualidade e custos.

Segundo aspecto fundamental – para haver liberdade de escolha, é necessário ter alternativas, tendo alternativas é preciso saber como é fechada capacidade quando os serviços e cuidados de  saúde de um entidade não recebem as preferências dos cidadãos.

Terceiro aspecto fundamental – a liberdade de escolha não é princípio único e universal, de outro modo rapidamente se entra em contradições. Não se pode dizer que se quer liberdade de de escolha como princípio orientador e dizer que se quer que o médico de clínica geral seja o “guia” do doente no sistema de saúde; que se  quer liberdade de escolha e que existe recurso às urgências a mais e que o doente deverá ir primeiro aos cuidados de saúde primários, excepto em situações de emergência; que existem medicamentos sujeitos a receita médica, pois a escolha do medicamento é do médico nesse caso; e certamente poderemos ter mais exemplos. Mais importante, o cidadão pode ter interesse em limitar a sua liberdade de escolha futura como forma de melhor organizar o sistema de saúde.

Quarto aspecto fundamental – para além da liberdade de escolha ser afectada por problemas de informação e conhecimento técnico, já apontados acima, é também afectada, no momento de utilização de cuidados de saúde, pelo sistema de protecção contra as consequências financeiras de ter de consumir cuidados de saúde. Por exemplo, se todos os cuidados e serviços de saúde forem gratuitos no momento de consumo, a liberdade de escolha leva a uma utilização excessiva (um problema conhecido na literatura de economia da saúde como risco moral).

Há assim restrições e interacções do princípio de liberdade de escolha com a arquitectura do sistema de saúde (e obviamente do Serviço Nacional de Saúde). E o termo “fomentar” que é usado, dentro de “regras” acautela em princípio a preocupação com estes factores. Esperemos para ver se as medidas concretas que venham a ser adoptadas partilham dessa preocupação.

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Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

10 thoughts on “Programa do Governo para a saúde – Objectivos estratégicos

  1. Duarte Nuno's avatar

    Deverão haver cortes cegos na saude sem apelo. O que assistimos hoje com as PPP e com o SNS é um rombo brutal no dinheiro de todos nós devido a esse risco moral..
    Temos que cortar nos vicios da populaçao, nao somos um país para ter um centro de saude em tudo o que é vila ou aldeia.
    Corte-se, pois isso irá criar uma cultura de exigência em todos nós portugueses.

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  2. Duarte Nuno's avatar

    O que vimos com as SCUT’s e vias negociadas entre Estado e Privados é simplesmente assassinar o nosso dinheiro. O mesmo se esta a passar com as PPP na Saude, é muito bom para os privados pois ha sempre um trafego (sobre-avaliado) de doentes apresentado ao Estado, e este devido ao facto de nao atrair os melhores profissionais em cargos de topo, aceita de bom grado.
    Teremos que acabar com estas negociatas ruinosas, alguem disse que o Estado nao tinha capacidade para gerir a Saude, surgiram as PPP, e os resultados sao os que se vêem.
    Teremos que ter coragem e assumir que Portugal tem um PNB que é feito à custa de negociatas, de trapalhice e de muito paralelismo nos rendimentos de cargos de topo no Estado.
    So mesmo com gente descomprometida com os partidos e independente lá chegaremos… e vai ser muito dificil

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  3. Duarte Nuno's avatar

    E ja agora, implemente-se a receita electronica, e é o primeiro passo para se acabar com alguma nevoa que paira na Saude…
    Ja foram feitas experiencias na ARS Alentejo com centros de saude de Portalegre e correu muito bem..
    A informatizaçao da Saude nao interessa, mas terá que ser feita, pois é muito urgente cortar na despesa.
    Felizmente vem alguem com experiencia em cortes e cobranças coercivas..
    Aleluia

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  4. Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE's avatar

    A informatização da actividade do Serviço Nacional de Saúde é um dos objectivos cruciais a ser alcançado para se ter um instrumento de conhecimento e gestão. Desde há pelo menos 15 anos que se fala dessa necessidade sem que se concretize.

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  5. Joao Pedro Santos's avatar

    Parabéns pela sistematização de aspectos muito importantes e tantas vezes esquecidos quando se discute a liberdade de escolha na saúde.

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  6. Duarte Nuno's avatar

    Com informatizaçao nao ha duplicaçao de trabalho nem burocracia nem ineficiencia,..este governo terá que ser forte no corte de despesa e racionalizaçao/corte de recursos humanos e financeiros na Saude.
    A Saude tem grande potencial para se racionalizar/cortar os seus custos – é como um diamante em bruto, tem tudo para se fazer de raíz porque simplesmente poucas sao as estruturas de eficiencia deste sector (apenas os lobbies estao bem cimentados, os das horas extraordinarios, os fornecimentos aos hospitais e seus carteis, etc,…)

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  7. Aida's avatar

    1) Não há liberdade de escolha porque não há recursos humanos suficientes. Quem está em Lx não tem uma ideia clara do que se passa no resto do país…

    1) Duarte Nuno: “nao somos um país para ter um centro de saude em tudo o que é vila ou aldeia”
    Pois não somos… não temos médicos suficientes.
    Mas deviamos ter… o bem saúde é de todos e não só dos que estão nos grandes centros urbanos.
    No dia em que experimentar a necessidade de cuidados médicos e não os tiver, então depois diga da sua justiça. Vá viver para fora Lx/Porto/Coimbra…

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  8. Duarte Nuno's avatar

    Aida, a sua ideia de SNS levava ainda mais o país a ruina…
    A nao ser que queira instituir o principio de utilizar pagador, a partir de certos rendimentos.
    É preciso acabar com as horas extraordinarias e definir bem os horarios dos medicos e outro pessoal. É preciso destacar enfermeiros para tarefas básicas e dadas aos medicos, (com racionalidade ou em que o custo é inferior ao beneficio).
    É preciso informatizar a Saude, que tanta falta nos faz, para nao haver duplicaçao, ineficiencia, burocracia.
    É preciso sermos practicos: SNS como está hoje leva-nos a desgraça, é preciso fazer mais e melhor com menos recursos.
    A Saude como está so provou que nao é atirar com dinheiro que se resolvem os problemas.
    Experimente comparar o nivel de vida das pessoas que vivem fora de Lx/Porto/Coimbra com o que era à 20-30 anos atrás.

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