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Temas sugeridos: as greves

1 Comentário

Por email, recebi a seguinte sugestão: as greves,

“Nota prévia: não gosto de greves. Em tese, são semelhantes ao terrorismo, pois “batem” em inocentes para chamar a atenção de terceiros para a causa.

As greves começaram por ser uma arma dos trabalhadores contra o capitalismo selvagem, tendo até o apoio da Doutrina Social da Igreja. Hoje, parecem ser uma arma dos “funcionários” contra o “socialismo selvagem”, pois é raro ver uma greve numa empresa privada (será que a ameaça de despedimento é a única razão para a ausência no sector privado e até no privatizado?).

Como as greves ocorrem a maioria das vezes em empresas com “déficit operacional”, a greve melhora os resultados (no caso dos transportes é ainda maior o efeito, pois muitas das receitas já foram angariadas). Eu já fui gestor público, tive greves, e sinceramente não perdi o sono…

Há ainda o problema dos números: ninguém se entende com as taxas de adesão. De facto, muitos grevistas não se assumem, tirando baixa (sem atestado até 3 dias), ou fazendo férias, ou não podendo ir trabalhar…  devido à greve!!

Uma solução possível: durante uma greve, todos os trabalhadores teriam de estar ao serviço e efectuar exactamente as suas actividades como se de um dia normal se tratasse, sem prejuízo para os clientes. Todos os “grevistas” teriam de se declarar para apurar a verdadeira taxa de adesão. Os grevistas perdiam o ordenado do dia. E os administradores perdiam também parte do ordenado (de um dia, de uma semana, …) na proporção da adesão à greve acima de determinado valor.

Acabava individualmente a greve táctica: não ir trabalhar um dia não seria motivo de greve.

Pelo menos era criado um incentivo para que os gestores se preocupassem com o assunto.”

Esta ideia obriga a pensar no que é o objectivo, por um lado, e o instrumento, por outro.

O objectivo da greve não é parar as empresas, é induzir uma alteração de comportamento das empresas ou de outro agente económico (no caso das greves gerais, o alvo é o Governo). Para induzir essa alteração é imposto um custo a esse agente económico – o instrumento é a perda que é provocada pela greve.

Sem colocar em causa o objectivo, pode-se perguntar se o instrumento ainda é o mais adequado – em particular, se se quiser penalizar financeiramente outro agente económico, é a greve a melhor forma de o fazer? A resposta será dependente de cada contexto, parece-me.

No caso de empresas privadas, apenas a greve poderá fazer com que os trabalhadores imponham um custo ao dono ou à administração da empresa.

No caso do Governo, é duvidoso que as greves afectem a sua visão ou intenção. Claro que as greves nesse caso podem ser mais para consumo interno das organizações que as convocam do que um pretenso instrumento para mudança.

No das empresas públicas, o principal custo cai sobre os utilizadores dos serviços respectivos. E nesse sentido, uma proposta de instrumento que não penalize os utilizadores e apenas a administração parece fazer muito mais sentido (e tem pelo menos a vantagem de não colocar os utilizadores contra os grevistas). Nesta era de facebook, um “like” para a ideia aplicada às empresas públicas de transportes.

Desconhecida's avatar

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

One thought on “Temas sugeridos: as greves

  1. marco's avatar

    Também não gosto de greves; mas me arrependo de não ter participado mais das greves. Claro, a situação no Brasil é diferente de qualquer outro país. De qualquer sorte, não se empenhar por mudanças, certamente, não é positivo.

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