várias das posições sobre os programas de austeridade em Portugal têm defendido uma flexibilidade no processo, e culpabilizando Angela Merkel pela falta de compreensão com os povos do Sul da Europa, falando em maior solidariedade e em necessidade da Alemanha (e países próximos) pagarem um programa de crescimento europeu, seja via os agora famosos eurobonds via directa pelo orçamento comunitário.
O artigo de Han-Werner Sinn publicado ontem no Jornal de Negócios deve-nos porém fazer pensar que o problema não está em Angela Merkel, ela própria limitada pela opinião pública alemã, muito influenciada pelas posições deste economista (e doutros que com ele alinham). Escreve Sinn “Muitos solucionariam o problema concedendo crédito cada vez mais barato, através de canais públicos – fundos de resgate, eurobonds ou BCE – provenientes do núcleo estável da Zona Euro e direccionados para um Sul em dificuldades. Mas isso obrigaria, injustamente, os aforradores e contribuintes dos países desse núcleo a fornecerem capital ao Sul sob condições que nunca aceitariam voluntariamente.
Até ao momento, as poupanças alemãs, holandesas e finlandesas, que ascendem a 15000, 17000 e 21000 euros por trabalhador, respectivamente, foram convertidas de investimentos competitivos em simples créditos de compensação para o BCE. Ninguém sabe quanto valerão estes instrumentos se houver ruptura da Zona Euro.” (bold adicionado)
Ou seja, o debate é colocado em termos de as poupanças do norte da europa deverem ser usadas para salvar o sul da europa, sacrificando investimento produtivo a troco de consumo. Ou extremando, se as reformas futuras dos trabalhadores do norte devem ser transferidas para o consumo presente do sul. Não interessa se esta visão, adicionando ainda mais tiradas demagógicas, é inteiramente verdade ou não. Mesmo que os juros pagos nessas poupanças sejam pelo menos iguais ao que obteriam com outras aplicações. O relevante é que dificilmente os alemães, holandeses e finlandeses estarão dispostos a abdicar das suas poupanças. E os seus dirigentes políticos irão reflectir essa posição.
A nossa melhor defesa contra esta percepção é mostrar que não é apenas uma questão de transferências do norte para sul, que os dinheiros dessas poupanças aplicadas no sul também podem ser investimentos competitivos, e neste momento o único sinal que temos é cumprir o acordado com a troika. Não o fazer é dar razão a vozes como Hans-Werner Sinn. O interlocutor do Sul da Europa não é a senhora Merkel, é o conjunto dos aforradores do norte, incluindo os alemães que elegeram a senhora Merkel. Este “pequeno” aspecto parece andar esquecido, e deverá estar sempre presente.
(post gémeo com No Reino da Dinamarca)
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12 \12\+00:00 Maio \12\+00:00 2012 às 07:37
Meu caro Pedro
Mas quanto se tinha poupado em tudo, dinheiro, sofrimento, aos cidadãos Europeus se estes tivessem sido consultados pelo menos desde o plano Delors pelo voto direto e não pelos que se designam como iluminados?
Quanto de teria poupado se Maastricht não fosse mais que triste do princípio ao fim, a começar pela falta de consulta pelo voto direto obrigatório aos cidadãos.
Quanto se teria poupado se o Tratado de Lisboa não fosse ainda mais que triste do princípio ao fim, a começar pela falta de consulta pelo voto direto obrigatório aos cidadãos.
O problema é desde o princípio:
1º Uma ausência da mínima ideia do que se quer como projeto para um Europa Unida (federal ou confederada ou em cantões) e da falta de consulta direta aos cidadãos quanto ao modelo, por isso uma questão politica.
3ºNão se ter dado tempo ao tempo para a criação de um verdadeiro espirito de união com equidade entre os países independente da sua dimensão é uma questão politica.
4º Uma questão de falta de identificação dos cidadãos com o projeto porque não são consultados diretamente e isso também é uma questão politica.
5º Uma regulamentação e políticas sectoriais em que se fez e faz o benefício de alguns em detrimento dos restantes, sem equidade e mais uma vez sem consulta direta aos cidadãos, e isso é uma questão política.
6ºLançar dinheiro, como foi feito, para calar a falta de consulta direta aos cidadãos e com isso comprá-los e degradando a sua possibilidade de decisão é uma questão politica.
7º É uma total falta de coerência a criação de uma moeda única sem união política prévia, é acrescentar uma questão económica que em consequência das anteriores, se tornará de imediato uma questão politica.
Por isso toda a questão está errada desde o princípio.
Ou se toma consciência que avançar de disparate em disparate até à destruição final é levar ao colapso de tudo de sul para norte e se corrige tudo desde o principio e para isso surgem estadistas em todos os países à altura ou a Europa irá mergulhar noutro conflito feio como aqueles que tem feito a catarse dos disparates nos seculos anteriores.
Não gostaria a assistir a um conflito de Secessão na Europa.
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