Continuando na linha do tema anterior, desta vez ressalto a afirmação de JLA de “cada vez mais os médicos têm que lidar com incentivos económicos perversos, com a competição do mercado e com a erosão da confiança dos doentes”.
Mas:
nem todos os incentivos económicos são perversos
a competição do mercado não gera incentivos perversos (ou então temos que aceitar que promoções por concurso, acesso a especialidades por concurso, em lugar de sorteio, por exemplo, também são perversos…)
a erosão da confiança dos doentes não decorre só dos incentivos económicos ou da competição do mercado, depende em grande medida do comportamento dos profissionais de saúde – e não há determinismo dos incentivos económicos, mesmo que perversos, para o comportamento dos profissionais de saúde
Mais do que lidar com incentivos económicos, que sempre existiram, os médicos têm que lidar hoje com incentivos económicos mais complexos na sua forma de apresentação e nos comportamentos que induzem; por outro lado, a maior informação que os doentes têm e que lhes molda as expectativas e exigências fazem com que interpretem e julguem os comportamentos dos médicos, face aos incentivos que defrontam, de uma forma que não esteve presente anteriormente, daí a erosão da confiança, que para ser mantida requere uma diferente atitude dos médicos.