Momentos económicos… e não só

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Programa do Governo para a saúde – Objectivos estratégicos

Dentro dos objectivos estratégicos enumerados, figura o reforço do exercício da liberdade de escolha. Este é um ponto também ele propenso a confusões e más ideias.

Primeiro aspecto fundamental – desde cedo que se reconheceu que em cuidados de saúde, o doente não tem o conhecimento técnico para tomar todas as decisões, e delega num outro agente, o médico, esse tipo de decisões.

Ora, este aspecto limita desde logo o exercício da liberdade de escolha. Se a quisermos ter, é forçoso que seja conhecida muito mais informação sobre a qualidade e custos.

Segundo aspecto fundamental – para haver liberdade de escolha, é necessário ter alternativas, tendo alternativas é preciso saber como é fechada capacidade quando os serviços e cuidados de  saúde de um entidade não recebem as preferências dos cidadãos.

Terceiro aspecto fundamental – a liberdade de escolha não é princípio único e universal, de outro modo rapidamente se entra em contradições. Não se pode dizer que se quer liberdade de de escolha como princípio orientador e dizer que se quer que o médico de clínica geral seja o “guia” do doente no sistema de saúde; que se  quer liberdade de escolha e que existe recurso às urgências a mais e que o doente deverá ir primeiro aos cuidados de saúde primários, excepto em situações de emergência; que existem medicamentos sujeitos a receita médica, pois a escolha do medicamento é do médico nesse caso; e certamente poderemos ter mais exemplos. Mais importante, o cidadão pode ter interesse em limitar a sua liberdade de escolha futura como forma de melhor organizar o sistema de saúde.

Quarto aspecto fundamental – para além da liberdade de escolha ser afectada por problemas de informação e conhecimento técnico, já apontados acima, é também afectada, no momento de utilização de cuidados de saúde, pelo sistema de protecção contra as consequências financeiras de ter de consumir cuidados de saúde. Por exemplo, se todos os cuidados e serviços de saúde forem gratuitos no momento de consumo, a liberdade de escolha leva a uma utilização excessiva (um problema conhecido na literatura de economia da saúde como risco moral).

Há assim restrições e interacções do princípio de liberdade de escolha com a arquitectura do sistema de saúde (e obviamente do Serviço Nacional de Saúde). E o termo “fomentar” que é usado, dentro de “regras” acautela em princípio a preocupação com estes factores. Esperemos para ver se as medidas concretas que venham a ser adoptadas partilham dessa preocupação.


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Concorrência é bom nos outros… ou a tentação do condicionamento industrial

Tome-se um sector com poucas empresas.

Tem poucas empresas porque existem limitações legais à entrada, pelo uso de um recurso escasso e não expansível.

Juntem-se as poucas empresas e pergunte-se o que acham de permitir a entrada de mais uma.

A resposta é que a entrada será sempre prejudicial para as que já se encontram no mercado (o que é em geral verdade).

E encontrarão argumentos para dizer que se é mau para as empresas é mau para os consumidores.

Este último passo não é em geral verdadeiro. É pela substituição de umas empresas pelas outras que o consumidor tem acesso a novas ideias, a novas visões, a novos serviços e produtos.

A tentação de limitar a entrada de concorrentes existe sempre.

O sector das emissões televisivas não é diferente dos outros. É por estas e por outras que no Memorando de Entendimento se diz que existe pouca concorrência em Portugal, em geral.


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Programa do Governo – área da Saúde – Sustentabilidade

A introdução ao sector da saúde no programa do Governo tem três parágrafos e em todos eles surge a palavra sustentabilidade, em dois deles falando mesmo em sustentabilidade financeira, demonstrando a importância que vai ser dada aos aspectos de financiamento.

O ponto de partida assumido no programa do Governo é claro: a “sustentabilidade financeira está neste momento em causa na medida em que os seus custos têm crescido muito acima das taxas nominais de crescimento económico”

A solução: “É, por isso, fundamental levar a cabo uma utilização mais racional e eficiente dos recursos disponíveis” (embora não só por questões de sustentabilidade financeira.

Neste contexto, parece-me importante clarificar dois aspectos:
a) é normal que as despesas com saúde cresçam um pouco acima das taxas nominais de crescimento económico – por várias razões -, e daí a relevância de se ter “muito acima” e não apenas “acima”. Ou seja, crescer a percentagem da riqueza nacional produzida gasta no sector da saúde será quase inevitável se se quiser manter o nível de cuidados de saúde prestados, no curto prazo.

b) utilização mais racional e eficiente – deve ser sempre procurada, mas em si mesma não garante a sustentabilidade, ao contrário do que muitas vezes parece ser o pensamento – a sustentabilidade financeira do Serviço Nacional de Saúde deve ser analisada em termos de dinâmica, de taxas de crescimento, e ganhos de eficiência são em geral estáticos – consegue-se baixar os custos hoje em 5% ou 10%, não se consegue todos os anos ter ganhos de 5% ou 10% em termos de redução de custos. Ganhar eficiência quando há desperdício é sempre bom e deve ser procurado. Nas condições actuais pode fornecer a margem de manobra para não baixar o nível e qualidade de assistência à população, mas não é pela sua própria natureza uma solução duradoura.

A discussão do que é sustentabilidade financeira do SNS encontra-se mais desenvolvida aqui e o Relatório da Comissão para Sustentabilidade Financeira do Serviço Nacional de Saúde está aqui


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Curiosidade do dia

Ao fazer uma leitura dos jornais do dia, deparei com o seguinte título num deles:

“O Parlamento foi ontem uma casa cheia de estreantes.

A surpresa do dia foi a calma desconcertante de Vítor Gaspar”

Pois sim, surpresa apenas para quem nunca tinha cruzado caminho com o Vitor Gaspar !

Creio que nem mesmo Francisco Louçã conseguirá retirar a calma a Vitor Louçã Gaspar 😀