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Michael Porter em Lisboa, para falar de saúde (4)

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Num ponto seguinte da sua intervenção, Porter apresenta mesmo uma agenda estratégica:

–       “integrated practice units” – não consegui arranjar uma tradução feliz do termo, mas essencialmente são unidades verticalmente integradas de cuidados de saúde, em que se coloca uma equipa dedicada a um problema clínico (ou conjunto próximo de problemas) e num único locl.

–       medir resultados e custos para cada doente

–       pagamento de acordo com “bundled prices” para ciclos de cuidados – um sistema de pagamento que fica entre o pagamento por episódio e a capitação – talvez o melhor exemplo que actualmente temos em Portugal seja o chamado “preço compreensivo” (e há que definitivamente encontrar melhores termos para estes conceitos)

–       integração de prestação de cuidados que estão actualmente espalhados por diferentes localizações geográficas

–       expandir a cobertura geográfica dos prestadores de excelência

–       construir e usar uma plataforma informática

 

Esta agenda estratégia decorre de considerar que Portugal tem um modelo organizado em torno da oferta e não do doente, e de ser impossível num sistema fragmentado conseguir gerar valor, a estrutura do sistema fragmentado funciona contra a geração de maior valor para o doente. O sistema fragmentado gera passos sequenciais, com atrasos temporais, com tempos de espera, exige mais coordenação desses passos e exige maior esforço de administração. Além de que ter o problema do doente resolvido todo num só local permite aos diferentes médicos intervenientes terem conhecimento de todo o percurso do doente e participarem no sucesso do tratamento. Em termos de satisfação profissional, Porter argumenta que também é uma forma de organização melhor.

Sendo interessante esta forma de ver, coloca-se desde logo a questão de quantas condições clínicas podem ser tratadas desta forma, e se há algum problema de fragmentação de condições clínicas. Em particular, coloca-se a questão posta por Luis Campos no final da sessão – o que sucede a um doente que tem várias patologias? Tem que ir separadamente a cada uma destas unidades  dedicadas?

O elemento mais importante é a forma de pensar na organização, mais do que a proposta exacta – se quisermos pensar em termos de necessidades de saúde dos cidadãos, qual a forma organizacional que melhor lhe dá resposta? provavelmente obriga a pensar em tipos de doentes, e como um doente evoluindo de um tipo para outro evolui dentro do sistema de saúde. Esta forma é diferente de tomar como adquiridos os modelos organizacionais actuais, e tentar dar-lhes maior coerência face às necessidades dos doentes.

 

… continua …

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Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

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