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o tema no dinheirovivo.pt de hoje, o adivinho

2 comentários

O lançamento periódico de previsões de variáveis económicas, com pequenas mudanças nas décimas, por quatro ou cinco entidades diferentes, começam a correr o risco de ser mais uma corrida entre elas para ver quem acerta do que um elemento de decisão e de compreensão para os agentes económicos. As reacções às últimas estimativas produzidas pela Comissão Europeia, e antes dessas as previsões do FMI, do Banco de Portugal, do Ministério das Finanças, da OCDE, dos gabinetes de estudos dos bancos, etc…, fazem lembrar a antiga figura do Adivinho, o que motivou o artigo de hoje no dinheirovivo.pt :

 

 

 

O adivinho

27/02/2012 | 09:34 | Dinheiro Vivo

Este ano vamos novamente assistir à produção de várias previsões sobre a realidade económica. Em particular, seremos regularmente informados dos números de crescimento económico produzidos pelas várias entidades nacionais e internacionais, através dos seus modelos de análise. O primeiro desses valores saiu a semana passada indicando (prevendo?) uma redução do PIB per capita real em 3,3% para este ano, baixando do valor de 3% anteriormente “previsto”. Muitos comentários se produziram a propósito deste valor e do significado que possa ter e do que possa obrigar para o pedido de um segundo resgate financeiro a Portugal.

Com a discussão permanente destes números entra-se definitivamente num mundo em que predomina a figura do “Adivinho”, aquela pessoa que gostaríamos que nos trouxesse a imagem do futuro, de preferência um bom futuro, mas na sua ausência que seja capaz de prever a desgraça.

Contudo o mundo do adivinho é menos interessante do que se possa pensar. As previsões, as profecias, são apenas isso, e não são ainda a realidade. A economia não funciona exatamente como um relógio, e embora o nosso conhecimento permita antecipar alguns efeitos e resultados, não há uma certeza absoluta. O funcionamento da economia é determinado pelo somatório das decisões de consumo, trabalho, investimento, que cada cidadão toma em cada momento. É por esse motivo que o crescimento da economia não pode ser decretado por um qualquer Governo nem o desemprego desaparecer apenas porque se anuncia que assim será.

A construção de conceitos como o PIB real per capita pretende capturar num indicador simples uma medida da criação da riqueza no país. Não é porém uma verdade absoluta, nem capta todas as dimensões que possam ser consideradas. Mais, de um ponto de vista técnico, todas as previsões, incluindo as do PIB per capital em termos reais, envolvem incerteza que faz com que -3% ou -3,3% não seja assim tão diferente como potenciais resultados. Aliás, deveria ser dada mais atenção aos intervalos de previsão para estes valores e não nos centrarmos apenas no valor médio dessas previsões.

Assim sendo, a adivinhação em torno do que será o valor do PIB não deve ser tornada em obsessão e sim ser tomada como um exercício que indicia um caminho e uma evolução possível, mas incerta e passível de ser influenciada e alterada.

Mais importante que entrar na discussão desta ou daquela previsão, do que descobrir qual é o melhor Adivinho, importa ter um rumo para a ação governativa, e capacidade de gerar propostas, de todos os lados, que sejam passíveis de discussão séria.

Frequentemente, as previsões realizadas não explicitam de forma clara quais as políticas que admitem irão ser seguidas pelos Governos, por exemplo. E a pressão para sejam adoptadas ou mudadas políticas económicas que foram admitidas como permanentes nessas previsões é grande.

Antecipo que neste momento o leitor esteja já a pensar na importância que estas previsões têm para as “expectativas”, e para o papel que essas “expectativas” possuem no desenvolvimento da actividade económica. Contudo, a partir do momento em que a produção de previsões tem em conta as “expectativas” e em que a formação dessas “expectativas” reconhece esse aspecto da elaboração de previsões de variáveis económicas, volta-se ao mundo do Adivinho. É por isso relevante que a produção de previsões para variáveis económicas siga um processo que seja tecnicamente auditável – isto é, que quem tiver o conhecimento técnico suficiente, com a informação disponível, consiga replicar a forma de obtenção dessas previsões. De outro modo, cada entidade que faz previsões é apenas uma versão moderna do antigo Adivinho.

É um passo que teremos de fazer,  em geral, passar de Adivinho a Analista. O que só se consegue com análise tecnicamente fundamentada, conhecida e que possa ser repetida de forma generalizada. Só assim as ditas “expectativas” poderão ter fundamento. E as previsões serem vistas mais do apenas fruto de um exercício de um Adivinho.
Nova School of Business & Economics
ppbarros@novabase.pt
Escreve à segunda-feira
Escreve de acordo com a antiga ortografia

Desconhecida's avatar

Autor: Pedro Pita Barros, professor na Nova SBE

Professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

2 thoughts on “o tema no dinheirovivo.pt de hoje, o adivinho

  1. ceu's avatar

    análise positiva vs análise normativa.

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