Nas últimas semanas, o crescimento das exportações foi tomado como “o” sinal de sucesso das políticas dos últimos anos, e o relatório do FMI a aconselhar cautelas caiu como um balde de água fria. Face à troca de informação (e de desinformação), nada melhor do que ir ver o que os números dizem sobre a evolução recente – numa perspectiva agregada neste momento, deixando para mais tarde uma desagregação de sectores, e de crescimento consoante o valor acrescentado de cada sector. De qualquer modo, é sempre melhor ter este crescimento das exportações do que não tê-lo. Não estará aí a divergência. Sobre o que significa sobre a saúde da economia portuguesa é que podemos ter diferentes interpretações. O meu objectivo é deixar que cada leitor forme a sua opinião sobre o sucesso/insucesso que está contido nos números das exportações.
A primeira figura mostra a evolução das exportações nos últimos anos, conforme publicado nos boletins periódicos do INE, e construindo duas linhas adicionais – uma contendo uma tendência dos últimos dez anos, incluindo a quebra verificada em 2009 (linha roxa); a segunda linha adicional é uma tendência baseada apenas nos valores até 2008 – antes da queda de 2009, e procura ver o que teria sido o crescimento das exportações na ausência dessa queda em 2009 (linha vermelha).
Estas três linhas permitem estabelecer:
a) que o crescimento dos últimos anos constitui uma recuperação face à queda grande de 2009;
b) que comparando ao longo de todo o período, e com o peso da queda, o valor dos últimos anos tem uma aceleração face a esse ponto de comparação de todo o período;
c) que se não tivesse ocorrido a queda em 2009, e tivesse permanecido a mesma tendência que se verificou de 2004 a 2008, então a recuperação ocorrida até agora ainda não terá atingido o que seria o resultado dessa evolução.
Ou seja, grande parte do crescimento recente das exportações foi recuperação face a uma queda muito grande em 2009.
É um sucesso importante, mas não ao ponto de podermos falar de milagre.
Claro que pode sempre haver a dúvida sobre qual a série exacta a utilizar, e na verdade entre diversas fontes, encontramos diferentes séries, que estão mais ou menos actualizadas, incluem mais ou menos bens e serviços. A figura 2 mostra a evolução das exportações segundo diferentes fontes, numa delas incluindo bens e serviços, com a característica de terem sido transformadas em número índice – isto é, para todas as séries, o ano de 2004 tem valor 1, pelo o que a figura regista é a evolução relativa face ao ano de 2004. Todas as séries passam forçosamente pelo ponto 1 no ano de 2004. E qualquer que seja a versão usada, tem-se uma imagem que é globalmente similar – o ano de 2009 foi um ano de queda, e os anos seguintes foram de recuperação, mas não de uma superação clara do que teria sido a continuação da tendência do período anterior a 2009.
Podemos e devemos estar satisfeitos com a recuperação? sim;
podemos e devemos ficar descansados com essa recuperação, pois está garantido que as exportações serão o motor de crescimento? não, é cedo para poder ficar descansado.
Mas cada um faça o seu julgamento.
26 \26\+00:00 Fevereiro \26\+00:00 2014 às 12:15
Caro Prof. Pita Barros,
Seria interessante desagregar por sectores de actividade (não sei se é possíve e/ou trabalhoso), até porque a ideia que tenho é que existiram algumas mudanças e trocas importantes entre a preponderância dos diversos sectores.
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26 \26\+00:00 Fevereiro \26\+00:00 2014 às 12:22
Também acho interessante fazer essa desagregação, que consoante o tempo disponível e os dados que existirem permitirem, tentarei realizar e colocar aqui no blog.
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27 \27\+00:00 Fevereiro \27\+00:00 2014 às 15:35
A comparação da série com a tendência é interessante, até porque a recuperação das contas externas tem o seu quê de estrutural (na medida em que surge em resposta de longos anos a contabilizar défices comerciais).
Sem querer fazer qualquer tipo de concorrência (até porque os dados não cobrem o último meio ano), aqui está uma pequena análise já feita:
http://deflator.wordpress.com/2013/07/28/o-milagre-das-contas-externas-1-1-exportacoes/
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